quinta-feira, 5 de abril de 2018

Mas você também jogou!





O rapaz subia a ladeira, pela calçada esquerda, na frente.
A senhora subia a ladeira, pela calçada esquerda, atrás dele.
Eu subia a ladeira, na mesma calçada, atrás de ambos.
Ele usava roupa social e mochila nas costas, tinha o passo apressado.
Ela usava roupas miseráveis, chapéu amarelo de político e carregava um cabo de vassoura qual ao cajado do velho Zé Esteves do romance de Tieta do Agreste.
Ele estava com pressa para o trabalho, faculdade, ou compromisso.
Ela ia catar papelão e latinhas nas lixeiras ao longo da rua.
Ele olhou, enojado, para um monte de lixo logo à frente, na calçada.
Que nojo, com certeza é essa gente que revira lixeira e joga lixo na rua!” — disse alto de modo que ela pudesse ouvir. Ouviu. — Isso é uma droga. — continuou, limpando o nariz com um lenço de papel. — Gente porca. — e jogou seu lenço sujo na pilha de lixo, no chão.
Tem razão… — disse a mulher — … mas você também jogou! — disse de si para si pois dessa feita o rapaz apressado, muito enojado e revoltado, já estava bem adiante para escutar.

Mas você também jogou!

O rapaz subia a ladeira , pela calçada esquerda, na frente. A senhora subia a ladeira, pela calçada esquerda, atrás dele. Eu...