O
ônibus de viagem seguia pela estrada. Partira de uma rodoviária em
São Paulo, capital, e tinha por destino a cidade de Belém do Pará
no norte do Brasil. Viajava o menino, em torno dos seis ou sete anos,
e sua avó dona Maria a qual ele chamava, carinhosamente, Mamãe
Maria, essa também conhecida, por amigos e parentes, como Dona
Augustinha.
Dona
Augustinha contara ao menino que a viagem levaria cerca de três
dias; três dias de pura estrada e estavam, os dois, felizes pois
conseguiram as duas primeiras poltronas da fileira da direita de modo
que eles poderiam, além de apreciar a vista da tradicional “janelinha”,
também, vislumbrar toda a estrada à frente junto com o motorista.
À
medida que o primeiro dia passou e chegou o segundo, sempre rumo ao
Norte brasileiro, a temperatura da estrada foi aumentando e, naquele
tempo de mil novecentos e noventa e alguma coisa não havia
ar-condicionado no ônibus de viagem mas esse fato não incomodou o
menino nem sua avó — abriam a janela na busca por se refrescarem
assim como todos os outros passageiros: brasileiros partindo,
brasileiros regressando; no caso do menino e sua mamãe Maria,
estavam indo visitar parentes; tomar muito açaí com farinha de
Tapioca, acompanhado de peixe assado na brasa; depois creme de
Cupuaçu ou o suco da polpa dessa fruta, comer pupunhas cozidas,
Tacacá na cuia, camarão, vatapá, maniçoba da folha da maniva (que
precisava ser cozida cerca de sete dias para essa iguaria) e muitas
outras delícias “lá do meu lugar, quente lugar.”
Durante
a viagem, Dona Augustinha fez logo amizade com duas senhoras que
viajavam juntas no par de poltronas da fileira da esquerda, e
conversavam.
Foi
na noite do segundo dia que ocorreu: o ônibus fez a sua parada num
restaurante para o jantar. Todos os passageiros desceram para esticar
as pernas, espreguiçar, saciar a fome. Findo o tempo estipulado para
a parada, todos os passageiros retornaram para o ônibus, incluindo o
menino e sua avó.
Embarcaram
ambos e sentaram nas poltronas; a avó, obviamente, permitiu que o
menino viajasse na poltrona ao lado da “janelinha”.
De
súbito, disse-lhe dona Augustinha:
—
Espera
aqui; eu esqueci de pegar água para nós… vou pegar, também, dois
sacos de pipoca! — E
desceu do ônibus.
O
motorista embarcou e tomou sua poltrona, exasperando o menino que
levantou-se pedindo:
— Por
favor, espere a minha avó voltar: ela desceu!
O
motorista achou graça na agonia do menino e decidiu fazer um
gracejo:
— Já
terminou o tempo, temos que ir embora; vou deixar sua avó…
O
menino ficou desesperado.
— Não,
por favor, ela já vem! — pôs se na escadinha entre o motorista e
a porta.
—
Desculpe,
mas não podemos mais esperar! — pilheriou o rapaz.
O
menino, já tomado pelo medo e pânico de partirem sem sua mamãe
Maria, começou a descer e subir a escada, ia até a porta tentar
gritar por sua avó mas não a via, retornava até o motorista já
implorando para esse aguardar, descia outra vez, o choro já querendo
subir por sua garganta quando… dona Augustinha chegou trazendo água
e pipoca.
Não
tenho palavras possíveis, hoje, para descrever o alívio do menino.
As
duas senhoras que ocupavam as primeiras poltronas da fileira da
esquerda, e que a tudo testemunharam, também sorrindo com aquele
desespero inocente da criança, depois narraram todo o caso para sua
avó que durante muitos e muitos anos ainda recordaria aquele
episódio marcante.
O
menino, hoje um homem, o recorda como um dos momentos mais
emblemáticos de sua vida.
E
o Ônibus seguiu pelas estradas do Brasil, para aquela que seria uma
das férias mais felizes e marcantes para ambos…
Nenhum comentário:
Postar um comentário