sexta-feira, 9 de março de 2018

A caminho do Pará

         O ônibus de viagem seguia pela estrada. Partira de uma rodoviária em São Paulo, capital, e tinha por destino a cidade de Belém do Pará no norte do Brasil. Viajava o menino, em torno dos seis ou sete anos, e sua avó dona Maria a qual ele chamava, carinhosamente, Mamãe Maria, essa também conhecida, por amigos e parentes, como Dona Augustinha.

Dona Augustinha contara ao menino que a viagem levaria cerca de três dias; três dias de pura estrada e estavam, os dois, felizes pois conseguiram as duas primeiras poltronas da fileira da direita de modo que eles poderiam, além de apreciar a vista da tradicional “janelinha”, também, vislumbrar toda a estrada à frente junto com o motorista.

         À medida que o primeiro dia passou e chegou o segundo, sempre rumo ao Norte brasileiro, a temperatura da estrada foi aumentando e, naquele tempo de mil novecentos e noventa e alguma coisa não havia ar-condicionado no ônibus de viagem mas esse fato não incomodou o menino nem sua avó — abriam a janela na busca por se refrescarem assim como todos os outros passageiros: brasileiros partindo, brasileiros regressando; no caso do menino e sua mamãe Maria, estavam indo visitar parentes; tomar muito açaí com farinha de Tapioca, acompanhado de peixe assado na brasa; depois creme de Cupuaçu ou o suco da polpa dessa fruta, comer pupunhas cozidas, Tacacá na cuia, camarão, vatapá, maniçoba da folha da maniva (que precisava ser cozida cerca de sete dias para essa iguaria) e muitas outras delícias “lá do meu lugar, quente lugar.”

Durante a viagem, Dona Augustinha fez logo amizade com duas senhoras que viajavam juntas no par de poltronas da fileira da esquerda, e conversavam.

         Foi na noite do segundo dia que ocorreu: o ônibus fez a sua parada num restaurante para o jantar. Todos os passageiros desceram para esticar as pernas, espreguiçar, saciar a fome. Findo o tempo estipulado para a parada, todos os passageiros retornaram para o ônibus, incluindo o menino e sua avó.

Embarcaram ambos e sentaram nas poltronas; a avó, obviamente, permitiu que o menino viajasse na poltrona ao lado da “janelinha”.

De súbito, disse-lhe dona Augustinha:

Espera aqui; eu esqueci de pegar água para nós… vou pegar, também, dois sacos de pipoca! — E desceu do ônibus.

O motorista embarcou e tomou sua poltrona, exasperando o menino que levantou-se pedindo:

Por favor, espere a minha avó voltar: ela desceu!

O motorista achou graça na agonia do menino e decidiu fazer um gracejo:

Já terminou o tempo, temos que ir embora; vou deixar sua avó…

O menino ficou desesperado.

Não, por favor, ela já vem! — pôs se na escadinha entre o motorista e a porta.

Desculpe, mas não podemos mais esperar! — pilheriou o rapaz.

O menino, já tomado pelo medo e pânico de partirem sem sua mamãe Maria, começou a descer e subir a escada, ia até a porta tentar gritar por sua avó mas não a via, retornava até o motorista já implorando para esse aguardar, descia outra vez, o choro já querendo subir por sua garganta quando… dona Augustinha chegou trazendo água e pipoca.

Não tenho palavras possíveis, hoje, para descrever o alívio do menino.

As duas senhoras que ocupavam as primeiras poltronas da fileira da esquerda, e que a tudo testemunharam, também sorrindo com aquele desespero inocente da criança, depois narraram todo o caso para sua avó que durante muitos e muitos anos ainda recordaria aquele episódio marcante.

O menino, hoje um homem, o recorda como um dos momentos mais emblemáticos de sua vida.

         E o Ônibus seguiu pelas estradas do Brasil, para aquela que seria uma das férias mais felizes e marcantes para ambos…


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